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História completa de Samil

  • Foto do escritor: Junta de Freguesia de Samil
    Junta de Freguesia de Samil
  • há 1 dia
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SAMIL, uma freguesia com:


900 anos de História e mais de 400 milhões de anos de Geologia


  1. CRONOLOGIA

    1. GEOLOGIA (origem e evolução da Terra)

4 500 milhões de anos – formação da Terra.

425 milhões de anos – formação do Tojal, a cama onde se deitam Samil e Cabeça Boa.

350 milhões de anos – levantamento do Alto do Souto, a cabeceira da freguesia.

2 milhões de anos - O Rio Fervença inicia a construção do leito, em Palhares na Pintora. À procura do Sabor e do Douro.


  1. HISTÓRIA (A origem do homem e a sua evolução no tempo)

4 milhões de anos – Ardi: o mais velho antepassado do homem moderno já explora a savana africana.

1 milhão e 400 mil anos – Primeiras comunidades da nossa espécie na Europa.

40 000 anos – O homem moderno chega à Europa.

5 000 anos a. C. (antes de cristo) – primeiros agricultores no termo de Samil.

1 200 anos a. C. – Um grande grupo de pastores e boieiros do Bronze Final instala-se em Agrelos.

700 anos a. C. – Início da Idade do Ferro: Uma linhagem (família alargada da Idade do Bronze Final sobe para o Alto do Souto, onde constrói um povoado fortificado (castro).

700 anos a. C. – Outra linhagem instala-se no Castrilhão, na confluência da Ribeira de Samil com o Rio Fervença.

29 a. C. – Guerra do Imperador romano Octávio César contra os Cântabros e Ástures. A este último povo, pertencia os Zoelas, que habitavam, havia mais de seis séculos, no Alto do Souto.

19 a. C. – “Todos os caminhos vão dar a Roma”: Samil – não sabemos como se chamava então a nossa Terra, porque o nome é muito posterior – integra-se no Império Romano. Fim da conquista romana da Hispânia.

324 (d. C.) – O Imperador Constantino promove o Cristianismo a religião oficial do Império Romano.

409 – Alanos, vândalos e suevos invadem a Hispânia.

416 – Os visigodos entram também na partilha da Hispânia romana.

476 – Fim do Império Romano do Ocidente.

711 – Conquista muçulmana da Península Ibérica.

718 – Início da Reconquista Cristã. Reino Cristão das Astúrias.

893 – Conquista (presúria) de Zamora. A fronteira (estremadura) entre cristãos e mouros desce para o Douro.

1085 – Tomada de Toledo por Afonso VI, avô o nosso primeiro ri. Os mouros são empurrados para o Vale do Tejo.

Inicia-se, a partir daqui, o repovoamento do Vale do Douro, com a instalação de novas aldeias, como Samil, entre outras.


Início do séc. XII – Fundação de Samil

1143 – Nasce Portugal como reino independente.

1187 – Fundação de Bragança.


Início do séc. XIII – Fundação de Cabeça Boa pelos abades da Paróquia de S. Vicente de Bragança.

1220 – Primeiro documento referente a Cabeça Boa. Os frades de Santa Maria da Moreruela, de Zamora, plantam as primeiras vinhas na Faceira.

1258 – Inquirição de Samil pelos juízes de D. Afonso III. Primeiro documento histórico de Samil. A Paróquia, que já tinha Igreja e abade, era forte colheiteira de hortaliças e linho, produtos que animavam o concorrido mercado de Bragança.

1258 – Inquirição de Cabeça Boa pelos juízes de D. Afonso III. Cabeça Boa anexa S. Vicente de Bragança.

1258 – Inquirição do Izei pelos juízes de Afonso III. Izei era a nova paróquia fundada sobre o povoado romano que referimos atrás. S. Lourenço, o padroeiro de Izei, ainda designa hoje o lugar. A aldeia foi perdendo moradores, transformando-se numa das quintas mais fortes dos arredores de Bragança. Mas, em 1258, era uma paróquia com enormes recursos, à qual pertenciam as anexas de Vale de Lamas, as Carvas e Guadramil.


Fins do Séc. XIII/Início do séc. XIV - A paróquia de Santa Maria de Samil é anexada à de Santa Maria de Bragança.

 1348 - Chega a Samil a terrível peste negra, o maior flagelo medieval. A grande gadanha ceifou à vontade na Europa e em Portugal. No concelho de Bragança, a mortandade foi tão grande que muitas aldeias, completamente dizimadas pela pandemia, só voltaram a ser repovoadas mais de cem anos depois.

 1387 - Os moradores de Samil e Cabeça Boa, aldeias do termo de Bragança, são obrigados a bellar e a roldar no castelo. Ou seja, eram escalados para fazerem vigilância noturna apertada nas muralhas da vila. Esta imposição já vinha de trás e manter-se-á até muito tarde.


 Sécs. XIV/ XV - Os Abades de S. Vicente de Bragança promovem a construção da primeira capela do Divino Senhor de Cabeça Boa, ao lado do sardão, árvore milenar, que muitos de nós ainda vimos, envolvendo com as suas frondas gigantescas a capela actual. 

1527 - Primeiro recenseamento do país. Samil tinha então 45 moradores. Ou seja, cerca de 200 habitantes. Alfaião, com 48 moradores, marchava, demograficamente, na frente. S. Pedro, com 31, seguia atrás. Surpreendente, em Cabeça Boa viviam 15 moradores, isto é, à volta de 70 pessoas, talvez a sua maior população de sempre. Dados posteriores dão esta Quinta, como é referida na documentação, a perder moradores. 

1637 - Fecho do arco da pia batismal da nova igreja de Samil. Do templo primitivo, que já existia em 1258, nada ficou.

 1697 - A nave da Igreja já estaria pronta porque recebe neste ano o púlpito. 

1706 - A festa da Santa Cruz, em honra do Divino Senhor de Cabeça Boa, era já uma das mais fortes romarias do concelho de Bragança. 

1706 - Samil tinha 50 vizinhos e Cabeça Boa 12. Nos últimos dois séculos, Samil ganhara mais 5 e Cabaça Boa perdera 3. Ou seja, na sede da paróquia passaram a viver mais 20 pessoas e na anexa menos 12. 

1758 - Neste ano, a Paróquia comportava 65 vizinhos, num total de 310 habitantes. A Igreja Matriz, que ainda não dispunha de capela-mor, era de uma só nave. Tinha três altares. Ao centro, o da padroeira - Nossa Senhora da Assunção. Dos dois lados, sob os arcos hoje escondidos pelos retábulos de Nossa Senhora de Fátima e de Santo António, muito posteriores, adoravam-se Santa Catarina e o Santo Cristo. O pároco continuava a ser apresentado pelo Prior de Santa Maria de Bragança, situação que já vinha pelo menos desde o séc. XIV, como vimos atrás, quando a nossa paróquia foi agregada à do castelo. Havia também duas irmandades. Uma do Senhor e outra do Santo Cristo. Para além da igreja matriz, a paróquia tinha mais duas eimidas, uma à entrada do lugar de S. Roque e outra do Sancto Christo [Cabeça Boa], como escreveram textualmente os dois curas, que também pastoreavam as almas de Vale de Lamas. O termo de Samil era então um celeiro de pão, vinho e hortaliças. Mas a castanha ainda pingava pouco no souto de cima e no de baixo. O azeite estava quase a chegar, com os primeiros olivais. Como vimos atrás, em 1258, ou seja, 500 anos antes, a horta e o linhal formavam já então duas das mais fortes apostas do regadio da paróquia. E, como sabemos, o topónimo hortos ainda se mantém hoje, caracterizando, ecologicamente, um dos espaços do regadio mais férteis da geografia da aldeia. 

1787 - As obras da nova Igreja Paroquial chegam ao fim. 

1796 - Na Quinta de Cabeça Boa, como era então chamada a anexa de Samil, viviam neste ano 12 vizinhos, pouco mais ou menos. 

1806 - Os habitantes de Samil, S.Pedro, Freixedelo, Gimonde e Vale de Lamas são dispensados de fazerem a limpeza da cidade e de conduzirem nas procissões reais a imagem de S. Cristóvão, ornada à custa cinco povos. 

1876 - Portaria reconhecendo Adolpho Leuschner como proprietário Legal do descobrimento da mina de cromato de ferro do Tojal de Samil. 

1898 - Decreto criando uma escola de ensino primário elementar mista em Samil.

 1909 - Junho. A Mesa da Confraria do Divino Senhor Jesus de Cabeça Boa assume-se como banqueira da Câmara de Bragança, emprestando-lhe dinheiro a juros. A irmandade, que então tinha atingido o seu apogeu, congregava milhares de fiéis dos concelhos do norte e centro do Distrito de Bragança, que todos os anos, nas festas da Santa Cruz, a 3 de Maio, entupiam o santuário, na festa mais explosiva do concelho de Bragança, ao ponto das autoridades, para assegurarem a ordem pública, requisitarem patrulhamento militar às várias unidades militares da cidade.

1919 – Alvará de concessão da mina de cromato de ferro do Cabeço o Tojal na freguesia de Samil a dias Romariz & Cª, Limitada.


Um povoado com mais de 3 000 nos em Agrelos 

Idade do Bronze Final (1 200-700 anos antes de Cristo)


AGRELOS. Durante a fase final da Idade do Bronze, uma comunidade de pastores e boieiros estabeleceu-se aqui, explorando os recursos frescos das pradarias húmidas de S. Lourenço e Vale de Conde, onde resistiam os melhores pastos de Verão. É o mais antigo povoado até agora no termo de Samil. Foi só há 3 200 anos.

As estruturas da Idade do Bronze Final, trazidas à luz do dia perla arqueologia, no contexto da abertura do acesso à auto-estrada, em Agrelos.


A Aldeia do Alto do Souto

A idade do Ferro (700 – 19 anos antes de Cristo)


  1. No Alto do Souto, que era um castelo natural, a comunidade de boieiros e pastores da Idade do Ferro sentia-se mais segura do que cá em baixo, no vale, onde todos os perigos espreitavam.

  2. Estruturas da aldeia do Alto do Souto, apenas podemos rastrear hoje o fosso, escavado a poente da coroa, apesar de por um bosque fechado de carrascal…É que a pedra da muralha foi utilizada, mil e oitocentos anos depois, para pintar as primeiras casas de Samil, cá em baixo Pegada da Senhora

  3. Foram os pastores e boieiros que se instalaram no Alto do Suto, no início da Idade do Ferro, cerca de 700 anos antes de Cristo, que se esculpiram os dois pezinhos, um de Nossa Senhora e o outro da burrinha. Muito mais tarde, o Cristianismo sacralizou o sítio, através da Cruz e da Ladainha, símbolos que todos os anos, no princípio da Primavera, traziam a procissão da Igreja até ao alto da Pegada, pedindo a Nossa Senhora a fertilidade das sementeiras e dos animais. Sem estas duas dávidas do Céu, Samil entrava na antecâmera da fome, que, conjuntamente com  a peste e a guerra, anunciavam o fim do mundo.



O Império Romano (19 a. C. – 430)


O Povoado de S. Lourenço:

Com a chegada dos romanos, os habitantes do Castro do Alto Souto descem para S.Lourenço.


As lápides funerárias romanas, que nós copiamos, dois mil anos depois, nos nossos cemitérios... 

Lápide funerária romana de S. Lourenço. Hoje ornamenta um jardim da Quinta. Mas, nas paredes da adega, reutilizados como blocos de construção, sobrevivem, embora partidos, muitos monumentos funerários deste tipo. O símbolo da luz eterna, esculpido na cabeçeira, diz-nos que a vida é também eterna. Em baixo, vinha o nome do falecido, a filiação, a idade e os entes queridos, que o continuavam a recordar, num tempo em que o Cristianismo ainda não tinha sido reconhecido pelo poder em Roma. Ou seja, as lápides funerárias, em memória dos defuntos, foram tão difundidas pela civilização romana na Terra Fria Transmontana que nós hoje continuamos a usá-las, e cada vez mais, 2000 anos depois...


Caminhos de Samil para Roma.... 

A Ternina, que tinha uma calçada como todos nos lembramos, e por onde passava até há um século atrás a estrada velha de Bragança/Parada Izeda, é uma herança romana. Ou seja, um caminho com dois milénos... Um tempo que é mais do dobro da idade de Samil...

 Este caminho desce da Portela para a Ternina, a caminho da Bragancia de D. Sancho I, o fundador da cidade actual, em 1187. este acesso é muito mais antigo, porque já existia quando a aldeia de Samil, que é mais velha do que a cidade, foi fundada. Portela quer dizer exatamente a porta de entrada, neste caso no vale de Samil...

 O topónimo Calçada aponta para a passagem por aqui de uma via romana, mil e duzentos anos antes da fundação de Samil, que só tem cerca de 900... Ou seja, A Rua da Calçada foi desenhada, muito tempo antes de aí se levantarem as primeiras casas, pelo lanço de um diverticulae (ramal), que precedeu em muitos séculos a aldeia... Mas ainda existe outro topónimo (nome de lugar), de origem viária, no nosso termo. O Caminho da Carriona remete-nos também para a viação antiga. Podemos mesmo referir que foram os caminhos pré-existentes que desenharam a estrutura do urbanismo (as ruas principais) de Samil.


A CERTIDÃO DE NASCIMENTO DE SAMIL DE 1258

Uma aldeia colheiteira de hortaliças e linho, há 753 anos!...


Cópia da folha original n° 147, do Livro II, das Inquirições de D. Afonso III, existente no Arquivo Nacional (A.N.T.T., Lisboa), referente à inquirição da Paróquia de Santa Maria de Saamir, efectuada na sede do Julgado de Bragança, 27 de Dezembro de 1258. Redigida em latim, em letra gótica, e em pergaminho (pele de cordeiro), contém as declarações dos três antepassados nossos, que ficamos a conhecer, e que foram arrolados como testemunhas da Santa Maria de Saamir para deporem perante os juízes da 4ª Alçada, que o rei D. Afonso Ill enviou ao Entre Douro e Tâmega e Bragança. Este documento pode considerar-se a certidão de nascimento de Samil, porque, em aldeia seja mais velha, é, enquanto não for identificado documento mais antigo, a sua primeira referência histórica.


Tradução do latim gótico da inquirição feita pelos juízes do Rei Afonso Ill às testemunhas da Paróquia de Samil, no Natal de 1258. Sublinha-se que, nos meados do séc. XIII, o português escrito ainda não se utilizava na documentação oficial. 


Começa a Paróquia de Santa Maria de Saamir. [Mas] o abade recusou-se a testemunhar. Dom Salvador de Saamir, depois de jurar [dizer a verdade], foi interrogado, dizendo que toda a vila de Saamir paga foro ao Senhor Rei, salvo um quarto de casal que aqui tem o Mosteiro do Castro de Avelãs. Interrogado de que forma é que [o mosteiro se tornou seu dono], respondeu que não sabia. Mas sabia que a Igreja [da Paróquia estava situada em propriedade forária (pública) do Senhor Rei. [Mais declarou] que eram os homens foreiros do Senhor Rei que nomeavam o abade da Igreja, conforme era costume. [Mais declarou] que o Arcebispo [de Braga] recebia a terça parte da dízima da Igreja e que os homens da vila recebiam outra terça parte, ficando a outra terça parte para o prelado da Igreja. Interrogado por que razão a dízima da igreja era assim repartida, respondeu que assim era costume. Mais declarou que o Mosteiro do Castro d Avelãs levava metade de tudo o que se colhia nos hortos e linhares [da paróquia]. Interrogado por que razão [o mosteiro só com um quarto de casal] recebia metade de t hortos e linhares, respondeu que o quarto de casal [do mosteiro] era todo constituído por hortos e linhares.

 Rodrigo Rodrigues de Saamir, depois de jurar [dizer a verdade], e também interrogado, disse o mesmo que D. Salvador. Paio Lourenço de Saamir, depois de jurar [dizer a verdade], e também interrogado, disse o mesmo que D. Salvador. 


O PATRIMÓNIO DA FREGUESIA... 

O Património geológico ou geo-monumentos (construídos ao longo da evolução da Terra) ... 

Fraga da Raposa da Pintora. Apesar da grossa capa de carvalhal e azinheiras que a veste, não podemos deixar de ficar admirados com o trabalho persistente da natureza, porque o homem não pôs aqui a mão... Esculpida pela erosão diferencial, esta estátua de xisto do silúrico (quatrocentos milhões de anos), completamente vertical e com alguns metros de altura, remete-nos para um raposão sentado, com os queixos afiados, espiando o espaço envolvente à cata onde meter o dente... Devem ter sido os moleiros da Pintora que a batizaram assim... 


O Património Histórico

  1. O Retábulo central da Igreja é dos finais do séc. XVIII, e foi talhado em estilo rocaille.

  2. Fachada barroca da nossa Paroquial. Embora sagrada no ANNO de 1784 como nos diz o lintel do portal, que sustenta o frontão curvo e os dois pináculos, a capela-mor só ficou pronta três anos mais tarde, em 1787, conforme data gravada na pilastra do seu cunhal nascente. Da leitura deste fecho temporal e do que consta do arco da pia baptismal (1637), ficamos a saber que as obras se arrastaram ao longo de 150 anos. Mas quem fechou os cordões à bolsa não foi o povo, que fez a tempo a sua parte, erguendo a grande nave. É aos comendadores de Santa Maria, de Bragança, por conta de quem corriam as despesas da construção da capela-mor, que temos de responsabilizar por quase 100 anos de atraso no lançamento das obras da capela-mor. Ou seja, querendo apenas atulhar os dízimos de todos os frutos da paróquia, em Bragança, mostraram-se muito ronceiros a levantar a capela-mor, que nunca mais arrancava!...

  3. Cabeça Boa. Uma capela com a sua sumptuosidade e reverência, segundo um documento de 1796. Esta referência, em termos tão elogiosos, ao actual templo barroco de Cabeça Boa, diz-nos que o estaleiro, onde tinham cantado tantos cinzéis de exímios mestres da pedra, já se tinha fechado nos finais do séc. XVIII. Ou seja, as obras da nova capela estariam prontas, muito embora, pela leitura arquitectónica deste templo magnífico, possamos inferir que, nos princípios da centúria seguinte, ainda se riscariam padieiras, pilastras e capitéis à sombra do sardão de Cabeça Boa...Não podemos deixar de sublinhar a fina sensibilidade do arquitecto da nova capela, içada pelo ouro do Brasil. Para ele, a nova construção era filha da anterior. Da que ali levantaram os abades de S. Vicente de Bragança, no ocaso da Idade Média (sécs. XIV/ XV). Por isso, o fio da memória não podia partir um elo tão decisivo com o passado, porque só todo o tempo explica o majestoso santuário que tanto nos surpreende hoje. É que a capela moderna, sozinha, não conseguia repercutir toda a espessura estética do lugar. Foi para tornar o novo edificio mais denso, histórica e esteticamente, que alguns elementos arquitectónicos do primitivo templozinho do Senhor do Sardão foram incorporados na capela barroca, que é a única na Diocese de planta circular. Podemos assim continuar a ver e a ouvir, sem apurar muito os sentidos, os artistas que, no transcurso de seis séculos, e entrecruzando muitos fios temporais, moldaram o genius loci do Santuário de Cabeça Boa. Sim, espírito do lugar, porque há lugares que, respirando o sopro humano por todos os poros, sedimentaram uma forte identidade, recortada por uma memória histórica profunda, onde apanhamos sempre o forte abalo da comoção estética e o bafo do mágico e do irrepetível!..

  4.  Capela de S. Roque. A sua arquitectura simples fala a linguagem da arquitectura religiosa das capelas rurais do séc. XVII. Erguida ao lado da estrada velha de Bragança/Parada/lzeda, o seu alpendre albergava os viajantes surpreendidos pelas chuvadas a caminho. ou no regresso, da capital do concelho t. depois de passada a tempestade, e de se encomendarem a 5. Roque, que também fora caminheiro, prosseguiam mais fortes a jornada. Por outro lado, a capela erguia-se na franja do prado comunitário de S. Roque, onde todas as boiadas da freguesia tosavam as herbáceas frescas do princípio da Primavera e do Outono. Ou seja, S. Roque não podia deixar de interceder pela vitalidade das manadas, desde que os seus donos não descurassem a Fé nele.

  5. Fonte da Ternina. O seu arco quebrado remete-nos para os sécs. XVIXVI, com restauros posteriores. Ma antes de ter tido sido assim ornamentada, já havia aqui uma fonte despida de enfeites arquitetónicos, onde os peregrinos, que passavam pela Terninha ainda antes de Samil ver a luz do dia, matavam a sede, conjuntamente com as respetivas montadas. Por isso, era uma fonte mais virada para fora do que para dentro da freguesia. Era uma das cinco fontes de Samil que passou depois a encher os cântaros do

  6. Fontão quer dizer fonte grane, onde regurgita muita água. Deve ser uma das fontes que acompanhava a aldeia desde os primódios. Há referências do início do séc. XVI (1501) a esta fonte. A sua monumentalização ter-se-á efetuado pouco depois, porque o harmonioso arco redondo e a abóbada ainda arrancam duma imposta muito pronunciada. Deve ser de origem particular.


Samil, uma história em continuidade. Hoje somos nós que a escrevemos.

 
 
 

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